"...
Que será que quer dizer este fascínio com o céu? É estranho, porque o céu nada mais é que um imenso vazio. Se assim não fosse, como poderiam por ele trafegar as nuvens? Os pássaros não poderiam voar - não é isto que é o vôo, um mergulho no vazio? E o arco-íris e as estrelas, não os poderíamos ver.
Vazio: é uma palavra triste, que diz de solidões e distâncias, abandono. Como o deserto onde não mora nada; ou a noite de insônia em que todos fugiram de nós, mergulhados no sono em que estão; ou o quarto irremediavelmente silencioso e quieto, depois da partida.
Mas isto será tudo o que o vazio contém?
Penso nas mãos que se juntam em concha, para acolher no seu vazio a água que corre da bica...
Os braços que se abrem para o abraço, marcando com este gesto o vazio reservado para a pessoa amada que ainda não chegou...
...
E o que dizer do colo? Vazio que acolhe.
Os vazios que acolhem são sempre amigos: o silêncio que não pede palavra alguma, contentando-se com a presença muda; a casa onde se encontra sempre um espaço onde descansemos; o lugar a mais que se coloca à mesa, declaração de alegria, para o hóspede que chegou...
Céu, vazio imenso que acolhe, espaço que se abre para a vida, convidando ao vôo. E os pássaros brincam.
..."
[ Rubem Alves ]
domingo, 15 de novembro de 2009
Monografando...
Monografando...
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre!
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece:
BUM!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria para ninguém.
[ Rubens Alves ]
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Turma do 4º ano
Regência - 13/10/2009
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